247 - Um novo
grampo complica ainda mais a situação do ex-prefeito de São Paulo,
Gilberto Kassab, que será ouvido pelo Ministério Público sobre desvios
de até R$ 500 milhões na capital paulista. Nele, o fiscal Ronilson
Bezerra, apontado como chefe da quadrilha, revela como o ex-prefeito
teria mandado arquivar uma investigação contra ele, aberta pelo então
corregedor do município, Edilson Bonfim.
"Vou dizer o que o corregedor
[Edilson Bonfim] fez comigo. Ele pegou a declaração de bens da
prefeitura, com a evolução patrimonial, foi no Kassab", disse Ronilson,
numa conversa gravada com outro integrante da quadrilha, o fiscal Luis
Alexandre Magalhães. "Isso o João Francisco Aprá, chefe-de-gabinete do
Kassab, me contando. Ele falou: olha, a evolução é compatível, mas eu
queria abrir a conta dele'. E o Kassab: não, não tem motivo'. E falou:
então arquiva'. Arquivou."
Antes disso, um outro grampo já comprometia a situação do ex-prefeito. Nele, Ronilson afirma que Kassab tinha
ciência de toda a fraude. "Chama o secretário e os prefeitos com que eu
trabalhei. Eles tinham ciência de tudo", disse ele numa conversa com
Paula Sayuri Nagamati, chefe de gabinete da secretaria de Assistência
Social (leia aqui).
Em nota, o ex-prefeito Kassab alega
que a apuração, aberta por ele, foi transferida para a administração
Haddad. A gestão petista diz que o procedimento se "limitou a ouvir o
investigado" e que "nenhum encaminhamento foi dado à época e o processo
ficou parado".
O ex-prefeito de São Paulo pode ser
convocado a depor sobre o suposto esquema de cobrança irregular de ISS
(Imposto Sobre Serviço) a construtoras na capital paulista. Segundo o
promotor Roberto Bodini, a declaração do ex-subsecretário da Receita
Municipal, Ronilson Bezerra Rodrigues, apontado como chefe da chamada
máfia dos fiscais, serve como "prova" e será investigada.
Em editorial neste sábado, a Folha aponta que Kassab se complica cada vez mais no caso. Leia:
Kassab se complica
Em conversas gravadas com autorização da Justiça, fiscais sugerem que o ex-prefeito tinha conhecimento de esquema de corrupção.
Se para 2014 já não eram
estimulantes as perspectivas eleitorais do ex-prefeito de São Paulo
Gilberto Kassab (PSD), elas se rebaixaram ainda mais após serem
reveladas gravações de conversas dos acusados de integrar a chamada
Máfia do ISS (Imposto sobre Serviços).
Noticiado há uma semana, o esquema
de corrupção alcançou dimensão impressionante. Estima-se que os cofres
públicos tenham perdido pelo menos R$ 500 milhões em impostos que
deveriam ter sido recolhidos por diversas empresas, mas que não foram
pagos devido à intervenção de quatro fiscais responsáveis pela
arrecadação.
Estes, em troca de polpudas
propinas, agiam na contramão de seu dever funcional e livravam as
empresas de parte das obrigações tributárias. Calcula-se que, desde
2007, o grupo tenha acumulado um patrimônio de R$ 80 milhões.
A Controladoria Geral do Município,
órgão criado pelo prefeito Fernando Haddad (PT), não precisou de muito
esforço para perceber a incompatibilidade entre os vencimentos e a
riqueza desses servidores. Investigações posteriores, feitas pelo
Ministério Público, levaram à prisão dos quatro fiscais.
Como três deles ocuparam cargos de
confiança na administração passada, Kassab logo se viu chamuscado pelo
episódio, embora Haddad tenha reiterado que não havia indícios de
envolvimento das autoridades políticas.
Uma semana depois, Kassab aparece em
meio a um incêndio de grandes proporções. Gravações autorizadas pela
Justiça e obtidas por esta Folha trazem diálogos com potencial
devastador.
"Chama o secretário e o prefeito com
quem eu trabalhei. Eles tinham ciência de tudo", afirma Ronilson
Bezerra Rodrigues, acusado de liderar o grupo, em conversa com a chefe
de gabinete da secretaria de Finanças da gestão anterior. Não parece
haver dúvidas de que o "prefeito" citado é Kassab.
Em outra gravação, os termos são
ainda mais explícitos. Um homem não identificado diz: "Minha esperança é
Kassab ganhar a eleição para governador". O fiscal Luis Alexandre
Magalhães concorda: "É, pois é, aí tá todo mundo bem". Então o primeiro
lamenta: "Mas acho que ele não ganha, não".
De fato, Kassab não reunia condições
reais de disputar o cargo em 2014. Sua intenção era fortalecer a
bancada do PSD e manter seu nome na cabeça dos eleitores. Agora, até
essa estratégia está em xeque.
Ainda que o ex-prefeito declare
serem falsas as afirmações dos servidores e mesmo com os sinais de que o
esquema era suprapartidário, será difícil para Kassab desvincular sua
imagem desse escândalo.
Para que esse ponto seja
esclarecido, bem como o eventual envolvimento de outros políticos, a
investigação precisa avançar com a maior celeridade possível, sem recair
no vício de transformar-se em arma de perseguição, ou preservação,
partidária.
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