São Paulo – Foi marcada por grande cordialidade a cerimônia de lançamento do programa Brasil sem Miséria, realizada nesta quinta-feira (18) em São Paulo. Políticos de partidos que há nove meses se engalfinhavam na disputa pelo Palácio do Planalto ou pelos governos estaduais adotaram uma postura de elogios e afagos.
Tanto a presidenta Dilma Rousseff quanto os governadores de Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo exaltaram a necessidade de se adotar um espírito republicano, livre de diferenças ideológicas, no combate à pobreza extrema. “Provemos que a melhor forma de administrar é buscar o bem de todos os brasileiros. É buscar a construção de um projeto nacional acima dos interesses partidários e que articule as dimensões sociais”, ressaltou a presidenta.
O discurso é feito em mais uma semana marcada por tentativas de integrantes da base aliada no Congresso de criar intimidações ao Palácio do Planalto em troca de emendas parlamentares e distribuição de cargos, além de pressionar pelo fim das investigações de irregularidades em ministérios e autarquias.
A este tema, Dilma fez apenas menção indireta: “É o Brasil inteiro fazendo um pacto pela verdadeira faxina que esse país tem que fazer: a faxina da miséria”. Ela considera que a união das forças pode ser importante para cumprir rapidamente a meta de eliminar a pobreza extrema no país – hoje, 16 milhões de pessoas vivem com menos de R$ 70 ao mês, e são o alvo do Brasil sem Miséria.
Durante o encontro, foram assinados vários pactos entre os governos federal, estadual e municipal para promover o engajamento no programa que Dilma escolheu como prioridade de sua gestão. Uma das principais medidas diz respeito ao complemento de renda que será dado pelos governos do Sudeste ao Bolsa Família.
Além disso, ocorrerá a unificação das assistências sociais da União com os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, locais nos quais os beneficiários utilizarão um único cartão. “Este grande pacto significa muito mais que aumentar a cobertura do Bolsa Família. Esse pacto ajuda a construir um novo Brasil, onde todos trabalham em favor de todos, onde todos trabalham em favor do país e da nossa nação, que é o que mais importa”, disse a presidenta.
Para Alckmin, a cerimônia desta quinta simbolizou um avanço para o país. “O momento em que a política, tantas vezes aviltada, cumpre sua função primordial, a de zelar pelo bem-estar das pessoas, abrir portas, criar oportunidades para que cada um se supere e encontre seu caminho.”
No caso de Dilma e do paulista Geraldo Alckmin, não se trata exatamente de uma novidade. Durante evento na última semana, os dois demonstraram boa relação e a presidenta chegou a rir de uma brincadeira feita pelo governador, fato que não se via em outros tempos.
Antonio Anastasia, mineiro, também assumiu o Executivo com um discurso de aproximação do Palácio do Planalto, e encontrou-se algumas vezes com Dilma no início do mandato. Alinhado a Aécio Neves, Anastasia era visto como um dos políticos que apostariam em uma "oposição soft" ao governo federal por considerar que o enfrentamento direto tem rendido más colheitas para a classe política – bom exemplo é o destino de boa parte dos senadores de oposição a Lula, que não se reelegeram em 2010.
Durante o evento do Brasil sem Miséria, não foi diferente. Mesmo com a presença de Fernando Henrique Cardoso, o governador de Minas deixou no ar a importância do legado de Lula. “Sabemos que a estabilidade econômica por si só não é suficiente para termos a plena inclusão social”, afirmou, discursando logo em seguida ao governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, que havia mencionado a estabilidade trazida pelo Plano Real, atribuído por alguns a FHC.
Casagrande, que já era aliado de Lula, fez questão de pontuar um pouco mais tarde, em conversa com a Rede Brasil Atual, que a relação dele com o Planalto não mudou, e o momento é diferente. “Lula intensificou os programas sociais (federais). E agora é hora de descer para os estados e municípios.” Segundo o capixaba, até mesmo o clima no almoço oferecido por Alckmin à presidenta e aos governadores foi tranquilo. “Falamos de amenidades”, assegurou.
O governador do Rio, Sérgio Cabral, também apoiador do governo federal desde o mandato anterior, lembrou Lula em seu discurso, e foi mais discreto na exaltação do espírito republicano. “Ao contrário de sobreposição, precisamos somar nossas forças para esse objetivo, que nos une e nos anima”, ponderou Cabral.
Período de disputas
Alckmin convidou para o evento o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que se sentou à mesa de cerimônias ao lado de Dilma. Durante boa parte do encontro, os dois trocaram conversas breves e demonstraram respeito mútuo, o que também já havia sido explicitado em outras oportunidades, não de todo livres de repercussões negativas dentro dos respectivos partidos.
O governador paulista afagou novamente a presidenta ao comentar o acerto em promover o resgate e a manutenção das boas experiências. Tentando demonstrar que os tempos são mesmo diferentes, o tucano chegou até mesmo a elogiar o Bolsa Família, outrora alvo de ataques de PSDB e DEM, que classificavam o principal programa social do governo Lula como “esmola” e “bolsa para vagabundo”. O DEM chegou a contestar no Supremo Tribunal Federal a existência da contribuição mensal às famílias pobres.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
”Sendo este um espaço democrático, os comentários aqui postados são de total responsabilidade dos seus emitentes, não representando necessariamente a opinião de seus editores. Nós, nos reservamos o direito de, dentro das limitações de tempo, resumir ou deletar os comentários que tiverem conteúdo contrário às normas éticas deste blog. Não será tolerado Insulto, difamação ou ataques pessoais. Os editores não se responsabilizam pelo conteúdo dos comentários dos leitores, mas adverte que, textos ofensivos à quem quer que seja, ou que contenham agressão, discriminação, palavrões, ou que de alguma forma incitem a violência, ou transgridam leis e normas vigentes no Brasil, serão excluídos.”