Por que nenhum dos jornais e TVs comerciais lança investigações sobre manipulação do orçamento por empreiteiras e deputados, denunciada há meses?
A seletividade da imprensa brasileira é a única explicação para uma denúncia de um deputado, do partido da base do governo do estado mais rico do País, São Paulo, passar em branco no noticiário, ficar ali, hibernando, em matérias esparsas.
Pois bem, o deputado estadual Roque Barbiere (PTB) denunciou um esquema de propinas pagas por emendas parlamentares na Assembleia Legislativa em que, segundo o denunciante, um em cada três deputados estariam comprometidos com os desvios de recursos do governo estadual.
O deputado foi mais além e disse que este esquema funciona há cerca de 20 anos no governo de São Paulo.
Sem entrar no mérito de quem possa estar com a verdade com tais afirmações, pois o governador Geraldo Alckmin, do PSDB, em seu terceiro mandato, afirma desconhecer o esquema e que o governo apenas libera os recursos, que são gastos pelas prefeituras, a pergunta que urge ser respondida sobre este episódio é a seguinte:
Por que a imprensa não investiga a fundo tais denúncias?
A resposta pode ir além da seletividade da pauta dos grandes veículos de comunicação do País.
Não se pretende aqui fazer juízo sobre o que o deputado estadual afirmou, mas escancarar o quanto a grande imprensa brasileira age partidariamente na apuração de fatos, que interessam ou não serem desvendados.
Os mesmos órgãos de imprensa, que criaram a pauta da faxina para emparedar integrantes do governo federal sobre denúncias investigadas sistematicamente e sem trégua, são os mesmos a tratar este estarrecedor acontecimento em “banho-maria”, com matérias, até este momento, sem continuidade e sem que levem a uma averiguação minuciosa daquilo que foi dito, publicamente, pelo parlamentar.
O estopim aceso parece apontar para um paiol repleto de casos de corrupção altamente explosivo, fala-se em desvios de cerca de R$2 milhões por deputado. Há nisso aí um terreno fértil para exploração dos bastidores das aprovações de emendas parlamentares, pelo menos, dos últimos 20 anos. Mesmo com a gravidade do que foi trazido a público, não se leem editoriais raivosos condenando os malfeitos contidos em uma denúncia como esta, nem em O Globo, Folha de S.Paulo, Estadão.
A Veja e a Época não fizeram uma cobertura séria, do tipo “doa a quem doer”, para tratar o ocorrido.
Nem Jabor ou Merval Pereira se ocuparam, no Jornal Nacional ou na Globo News, de bradar palavras de ordem contra a corrupção da Assembleia Legislativa paulista, comandada pela maioria governista tucana. Nada disso ocorreu até agora…
Qual poderá ser o rumo dessa história?
Talvez o destino seja mesmo dos escândalos da Alstom, das obras do metrô de São Paulo, do aumento expressivo do valor do Rodoanel, do esquema de compra de votos para a reeleição de FHC, Paulo Preto, entre tantos outros assuntos delicados… O do esquecimento editorial proposital.
Porque a imprensa tem partido e toma posição clara em situações como esta.
A imprensa cumpre importante papel de informar a sociedade sobre os mais variados temas, investigar e publicar desmandos é um deles, seja de qual lado isto ocorra.
Quando a imprensa, da maneira como age agora, tomando partido, legitima o sentimento comum das pessoas de que o que publicam não é digno de confiabilidade e que se movimenta por interesses políticos, econômicos e comerciais.
O que confirma uma pesquisa da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), em que cerca de 80% dos leitores não creem ou creem muito pouco no que é noticiado pela grande imprensa brasileira, como publicado aqui em julho de 2010.
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