A notícia publicada no Estadão, de que o Ministério das Cidades teria fraudado um parecer técnico para elevar o custo de uma das obras da Copa em Mato Grosso, foi parar no Jornal Nacional, com um texto cuidadosamente elaborado para confundir o espectador. Destaco os fatos que foram neglige nciados pelo âncora:
- a mudança do projeto representou obviamente um grande avanço em termos de tecnologia, correção ambiental e qualidade do transporte;
- o parecer do técnico Higor de Oliveira não era uma advertência do oráculo de Delfos, nem a conclusão final de uma auditoria externa. Deveria naturalmente ser examinado, corrigido e, como foi o caso, substituído por um parecer mais fundamentado e condizente à necessidade de transformar as obras da Copa em oportunidade para desenvolvimento de modelos mais avançados de transporte urbano. A diretora Luiz Gomide, que assinou o novo parecer, afirmou que sua função no ministério é justamente essa: ela é a chefe, não Higor; ela tem essa prerrogativa.
- o governo do Mato Grosso, que vai bancar 70% do custo da obra, não queria uma nova “linha rápida de ônibus”, conforme orientava o parecer inicial; o governador Silval Barbosa já deu entrevistas afirmando que, desde o início, fez pressão aberta e transparente junto ao Executivo para que a obra fosse um VLT, ou seja, um trem de superfície moderno. Como é o governo do MT que está pagando a maior parte da obra, imagino que ele deva ter a palavra final sobre o tipo de obra que deseja em seu estado.
- não houve fraude; o documento final foi substituído por outro.
Os objetivos do JN de produzir um clima de escândalo é turvado, no entanto, pelas imagens de vídeo, onde são exibidas ao telespectador cenas de ônibus trafegando em linhas congestionadas, seguidas de outras onde vemos um moderno trem de superfície deslizando sem obstáculos por uma cidade.
A Controladoria Geral da União é um dos órgãos mais importantes da administração pública, mas também não é um oráculo de Delfos. A obra sequer foi iniciada. Não se trata aqui – ao menos por enquanto – de um problema de desvio de verba. O CGU fez ressalvas, justas, a falhas de informação, só isso. O CGU não tem poder para decidir se uma obra deve ser feita ou não no país. O CGU não tem competência para decidir se é melhor para Cuiabá tem uma nova linha rápida de ônibus ou um moderno trem de superfície. Temos uma hierarquia no Estado. Quem decide uma obra é o governador, o ministro, a presidente, ou seja, os poderes executivos que foram eleitos e tem obrigação moral e eleitoral (a obrigação eleitoral não é imoral, como tantas vezes a mídia faz pensar; muito pelo contrário) de oferecer aos cidadãos a melhor opção de transporte urbano, não o mais “barato”.
A denúncia do Estadão é fraca, apesar da tentativa do Jornal Nacional de anabolizá-la. Tanto é fraca que outros jornais não embarcaram. O Estadão ficou sozinho na empreitada. A Folha sequer menciona a palavra fraude. Apenas publica, na página A4, que “Pressão dos Estados fez Dilma alterar projetos da Copa-2014“, o que me parece mais um elogio do que outra coisa, visto que demonstra o caráter democrático e flexível da presidente. E o Globo, numa surpreendente demonstração de prudência, fala somente em “suspeita de fraude” ou “suposta fraude”.
E o áudio da reunião onde se discutiu a mudança do parecer chegou ao JN, mas não traz dessa vez nenhum termo impróprio, sequer uma gíria, tampouco a insinuação de qualquer ilícito, apenas frases absolutamente técnicas com críticas ao documento e comentando que havia decisão política de fazer o trem VLT, não ônibus.
Enfim, a “denúncia” pode até produzir algum ruído político e comover os incautos de sempre, mas não é daquelas que derrubam ministro. Pelo jeito, a mídia vai ter de engolir a sua segunda derrota em algumas semanas, depois da tentativa gorada de derrubar Carlos Lupi.
Gilmar Crestani
No Senta a Pua
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