Mino Carta destacou que o amplo acesso à internet pode colaborar para a mudança social do Brasil no futuro |
Para Mino Carta, diretor de redação de CartaCapital, a ascensão econômica e o acesso às informações no meio digital podem ser uma “sementinha” para a mudança social no Brasil. Mas a transformação completa está muito longe de se concretizar. Durante o debate “O jornalismo e o jornalista no divã”, no Seminário Internacional MediaOn, realizado na quinta-feira 24 no Itaú Cultural de São Paulo, o jornalista fez uma análise bastante pessimista do país e do jornalismo brasileiro. Aos 77 anos, Carta foi criador das revistas Quatro Rodas, Veja e CartaCapital e Jornal da Tarde.
“O Brasil é muito atrasado, com condições sociais terríveis. Isso é uma tragédia, com lances de comédia”, disse ele. Tragédia que também afeta a produção da imprensa. “Os jornais são feios e mal escritos”.
Além de Carta, o debate contou com Fabio Altman, diretor executivo da revista Veja, e a mediação do pscanalista Jorge Forbes. A ideia era que os dois profissonais dicutissem a crise do jornalismo moderno frente ao surgimento da internet, aos moldes de uma sessão de psicanálise. A experiência despertou risos da plateia. Quando questionado sobre crises com a profissão, Mino Carta respondeu “Eu nunca tive crise porque perdi todos os meus empregos com muita honra. Nunca temi ser mandado embora. Sempre tive uma gaveta de camisas xadrez no meu armário. Na pior das hipóteses, vou ser lenhador no Canadá”.
Fábio Altman lembrou que, com a internet, há uma possibilidade de absorção maior de conteúdo, mas que a Web ainda sofre muito preconceito e é desvalorizada dentro das redações. Para ele, vive-se em um momento de transição, em que a informação é passada de uma outra forma. O papel está com seus dias contados.
Para Mino Carta, o Brasil assiste hoje ao jornalismo de pensamento único. O jornalista criticou a ignorância dos próprios colegas, sobretudo dos mais jovens. “Fico espantado com o baixo nível cultural dos nossos jovens jornalistas. Muitos nunca leram nada significativo”. E apontou saídas para a superficialidade da internet. “O que nos impede de, baseados numa cultura à moda antiga, produzir algo que se adequa ao momento que vivemos? Eu não vejo antítese. Lutar por transformações é importante, mas é fundamental sabermos como chegamos aqui”. E destacou que falta aos jovens se aprofundar no conhecimento já estabelecido e na literatura.
Carta lembrou do caso da “ditabranda”, em que o jornal Folha de S. Paulo usou o termo para se referir à ditadura militar no Brasil e do episódio do Riocentro. Às vésperas da abertura democrática, em 1981, setores radicais do governo militar empreenderam um atentado frustrado ao centro de convenções Riocentro com cerca de 20 mil pessoas, durante um show comemorativo do dia do Trabalho. Apenas o sargento que carregava a bomba morreu. Mino Carta alerta, porém, que se o atentado tivesse saído como previsto, o número de vítimas do período militar teria se elevado exponencialmente.
Objetividade
Os dois jornalistas à mesa concordaram que não há objetividade no jornalismo. “A subjetividade é natural. É importante que se faça um jornalismo honesto”, afirmou Carta. E destacou a importância dos fatos. “A verdade que cada um carrega não representa a verdade factual. É preciso verificar.” Altman confirmou a análise e destacou que alguns dos principais veículos do país – Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo e a própria Veja – não fazem um jornalismo imparcial.
Do CartaCapital
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