EDWARD LUCE
DO "FINANCIAL TIMES"
Algumas semanas atrás, James Carville, o lendário administrador da campanha de Bill Clinton em 1992, teve uma palavra de conselho a dar a Barack Obama: "pânico". O presidente estaria se dirigindo a um desastre em 2012 com a mesma equipe de assessores que o conduziu para o beco sem saída em que se encontra. "Sr. presidente, é preciso que sua roda da fortuna mude de direção", disse Carville. "O sr. pode não ter consciência disso, mas as coisas não vão bem." Assim, para ele, Obama deveria "demitir muitas pessoas" e traçar um rumo novo.
É o conselho que é dado a todo presidente americano em um momento ou outro. E muitos o seguem. Tanto Ronald Reagan quanto Bill Clinton, os dois mais bem-sucedidos entre os presidentes recentes dos Estados Unidos, formaram o hábito de ejetar amigos íntimos quando algo melhor se oferecia. Mesmo George W. Bush se obrigou a desmontar a Cosa Nostra quando finalmente mandou embora Karl Rove, seu "menino maravilha" eleitoral, seis anos depois do início de sua Presidência.
Em sua relutância em mudar seu gabinete, Obama constitui exceção; de fato, seu círculo interno de assessores da campanha está, na realidade, fortalecendo seu controle sobre a Casa Branca. O grupo, que inclui mais notavelmente Valerie Jarrett, amiga e mentora dos Obama de longa data; David Plouffe, administrador da campanha de 2008, e David Axelrod, que agora comanda a campanha de reeleição de Obama desde Chicago, na semana passada cortou as asas do impotente chefe-de-gabinete do presidente, Bill Daley.
A Casa Branca anunciou que Daley dividirá seus deveres com Peter Rouse, assessor de longa data de Obama. Num momento em que a Europa se equilibra à beira do abismo, a iniciativa pareceu um daqueles eventos excessivamente cafeinados que deixa Washington fervilhando de especulações, mas deixa o resto do mundo sem entender nada. Mas também transmitiu uma mensagem perturbadora: que o presidente continua a ser incapaz de criar uma Casa Branca que funcione corretamente. Boa parte do governar se resume a administrar. Ninguém, até agora, recebeu a autoridade necessária para controlar o círculo interno de Obama. Os efeitos disso têm se evidenciado de modo negativo nos últimos 12 meses.
Sempre cheios de esperança de que o presidente vá retomar o que vêem como sendo seu manto progressista real, partidários desiludidos enxergaram as mudanças anunciadas na semana passada sob outra ótica: como a conclusão bem-vinda de um ano de tentativas infrutíferas de bipartidarismo. Ex-executivo do JP Morgan, Daley foi nomeado na esteira da derrota avassaladora sofrida pelo Partido Democrata nas eleições parlamentares do ano passado, a pior derrota de metade de mandato presidencial em 70 anos. Seu trabalho consistiria em lançar pontes entre os democratas e os republicanos recém-vitoriosos e apaziguar a comunidade empresarial insatisfeita. Nenhuma das duas coisas tem avançado bem.
A maior humilhação do presidente se deu na esteira da débâcle sobre o teto da dívida, em setembro, quando os republicanos o forçaram a reprogramar um discurso perante as duas casas do Congresso. Obama, que deveria apresentar seus planos para reativar a economia americana enfraquecida, foi obrigado a mudar a data depois de os republicanos dizerem que ela entrava em choque com um debate presidencial. Pior ainda, ele teve que adiantar seu discurso para as 19h, um horário mais cedo, para que não coincidisse com uma partida de futebol americano universitário. O incidente marcou um novo ponto baixo na Presidência, que não parava de encolher.
Quanto ao esforço que Daley deveria fazer para ganhar a adesão de líderes empresariais, ele não teve êxito nem mesmo com seu amigo Jamie Dimon, executivo-chefe do JP Morgan em cujo conselho de direção serviu. Dimon, ex-apoiador de Obama que se distanciou desde após sua lei de reforma de Wall Street, recentemente jantou em Nova York com Mitt Romney, o provável adversário de Obama em 2012. Dimon chegou a assistir a um evento de levantamento de fundos para o ex-governador do Massachusetts. Todas essas podem ser boas razões para colocar Bill Daley de escanteio.
Mas são razões secundárias. A equipe de campanha de Obama rejeitou todos os transplantes que ele já tentou fazer, mesmo alguns de Chicago, como Bill Daley e seu predecessor, Rahm Emanuel. Contraste a experiência deles com a de James Baker, que Ronald Reagan contratou, dando preferência a ele sobre seus amigos, para ser seu primeiro chefe-de-gabinete. Baker tinha comandado a campanha eleitoral do rival republicano de Reagan, George H.W. Bush. Visto por muitos como o melhor chefe-de-gabinete que já houve, Baker exigiu termos com os quais um nomeado por Obama não poderia fazer mais que sonhar, incluindo "autoridade de contratar e demitir todos os elementos da Casa Branca" e controle sobre cada folha de papel que entrava e saía do Gabinete Oval.
Quando deixou a Casa Branca, Rahm Emanuel avisou Bill Daley que ele seria apenas um entre quatro chefes-de-gabinete "de facto", cada um deles tendo acesso independente a Obama.
Essa avaliação mostrou ser precisa. Os presidentes eficazes dependem de administradores poderosos que não são obrigados a competir com consultores eleitorais pela atenção do presidente. Num momento de "baixa visibilidade" na economia americana e em que a volatilidade dá o tom na política americana, há mais necessidade que nunca de um líder que seja capaz de focar sobre o horizonte maior.
Já se passaram quase três anos, e seus aliados frustrados dizem que Obama demonstra poucos sinais de estar aprendendo. Ele ainda não faz consultas amplas e não gosta de buscar ajuda quando deveria. Muitos democratas já desistiram de tentar. "Ele não quer ouvir", disse um senador. "Acho que o leopardo não vai mudar suas manchas." O fato, puro e simples, é que Obama prefere fazer campanha a governar. Com o círculo estreito fortemente entrincheirado que ele tem, ninguém deveria ficar surpreso com isso. Quer Obama consiga ou não uma vitória no próximo ano, seria otimismo demais prever que algo vá mudar radicalmente em seu segundo mandato.
TRADUÇÃO DE CLARA ALLAIN
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