Sanguessugado do redecastorphoto
MK Bhadrakúmar*, Indian Punchline blog
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Príncipe Coroado Nayef Bin Abdul Aziz
A morte repentina do Príncipe Coroado Nayef, saudita, traz de volta às manchetes o problema saudita. O país enfrenta terríveis desafios [1] – sistema monárquico arcaico, corrupção e venalidade rampantes, dificuldades socioeconômicas que só se aprofundam, o fortalecimento dos xiitas, levantes regionais e vizinhança nada amistosa. Mas a ironia mãe de todas as ironias começa a desenrolar-se agora, no período de 30 dias, entre Nayef ser sepultado e selecionar-se outro Príncipe Coroado para ocupar o seu lugar.
A Arábia Saudita aparece ante o mundo como campeã pró-“reformas” e “democracia” e “direitos humanos” na Síria. Simultaneamente, mantém, internamente, um dos sistemas políticos menos democráticos e obscuros do planeta [2]. 34 cavalheiros desconhecidos do mundo externo, declarados descendentes diretos do fundador do Império, Abdul-aziz Ibn Saud (que teve 34 filhos), tomarão a difícil decisão de escolher quem será o Príncipe Coroado que sucederá o rei Abdullah. Não devem explicações ou satisfações a nada e a ninguém. Trata-se de perfeita cabala [3] que zomba da democracia representativa ocidental.
O fator “desconhecido desconhecido” é, claro, que o establishment de segurança e inteligência dos EUA tem influência quase total sobre esses “decisores”, cujos respectivos patrimônios milionários repousam, todos, nos cofres de bancos ocidentais.
Príncipe Nayef sendo homenageado pelos familiares
A lista dos dignitários presentes aos funerais de Nayef serve como bússola para navegar pelas tormentosas águas da política regional. Do Paquistão, irão dois, o Primeiro-Ministro, Yousuf Gilani e o comandante das Forças Armadas, Ashfaq Kayani. Kayani também? Sim, sim. [4] O que dirão disso os especialistas colunistas de tantos jornais indianos, segundo os quais os laços que ligam o Paquistão e a Arábia Saudita estariam “estremecidos” por algum tipo de movimento “gravitacional” dos sauditas em direção à Índia?
Não faltarão líderes ocidentais que se derramarão em elogios ao legado de Nayef. Melhor fariam se se limitassem a louvar o petróleo da Arábia Saudita e desfilassem, em silêncio reverencial, ante uma pira de petrodólares. Afinal, bem feitas as contas, qual o legado de Nayef? Curiosamente, morreu no mesmo dia em que um pequeno grupo de mulheres sauditas decidiram desafiá-lo [5] – e desfilaram dirigindo, elas mesmas, os próprios carros.
Povo comemora a morte do príncipe nas província ocidentais da Arábia Saudita
Nayef usou violência extrema e recorreu à brutalidade [6] para livrar-se de ditos membros da al-Qaeda, de islamistas, de liberais e de mulheres, de xiitas e de todos os tipos de dissidência, como se fossem todos a mesma dissidência e os mesmos dissidentes. A volta do chicote, que talvez tarde, mas vem, obrigará a reavaliar todo o papel de Nayef durante um período crítico de transição na região. Foi figura chave na intervenção saudita no Bahrain, que ainda está em julgamento, nas ruas. E muitos islamistas radicais xiitas baseados no Iêmen esperam para promover o acerto final.
Nayef nunca foi figura “popular” [7] na própria terra, mas, afinal, quem gosta de chefes de polícia? Problema é que, nas províncias ocidentais da Arábia Saudita, seu passamento está sendo, como mostram algumas fotos, festejado. [8]
Notas de rodapé
[1] 17/6/2012, The Guardian (Reuters), em: “Saudi royals face challenges as heir dies”
[2] 17/6/2012, Reuters, Angus McDowall em: “Saudi succession: how oil kingdom picks its kings”
[3] 17/6/2012, Reuters, em: “Factbox: Saudi Arabia’s Allegiance Council”
[4] 16/6/2012, Pakistan Times News, em: “Gilani, Kayani leave for Saudi to attend Nayef's funeral”
[5] 18/6/2012, Sidney Herald, Ruth Pollard em: “Saudi heir's death fails to curb women at wheel”
[6] 16/6/2012, Reuters, Angus McDowall em: “NEWSMAKER-Saudi Crown Prince Nayef left security legacy”
[7] 16/6/2012, Wall Street Journal, Ellen Knickmeyer, em: “Saudi Arabia’s Enforcer of Internal Security”
[8] 18/6/2012, Fars News, em: “People in East S. Arabia Celebrate Death of Crown Prince Nayef Bin Abdul Aziz
*MK Bhadrakumar foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quais The Hindu, Asia Online e Indian Punchline. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
”Sendo este um espaço democrático, os comentários aqui postados são de total responsabilidade dos seus emitentes, não representando necessariamente a opinião de seus editores. Nós, nos reservamos o direito de, dentro das limitações de tempo, resumir ou deletar os comentários que tiverem conteúdo contrário às normas éticas deste blog. Não será tolerado Insulto, difamação ou ataques pessoais. Os editores não se responsabilizam pelo conteúdo dos comentários dos leitores, mas adverte que, textos ofensivos à quem quer que seja, ou que contenham agressão, discriminação, palavrões, ou que de alguma forma incitem a violência, ou transgridam leis e normas vigentes no Brasil, serão excluídos.”