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quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Mensalão gera clima de guerra nas eleições

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Tal como planejado e esperado pela mídia bem antes do início do julgamento, os petistas José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares foram condenados pelo Supremo Tribunal Federal nesta terça-feira, em meio à disputa do segundo turno das eleições de 2012. As decisões finais do STF devem coincidir com os dias que antecedem a abertura das urnas.
 
Também não por acaso a rima pobre de eleição com mensalão se tornou a principal, se não a única bandeira dos partidos de oposição ao governo federal.
 
Desde a noite de domingo, quando foram anunciados os resultados em São Paulo, que levaram José Serra, do PSDB, e Fernando Haddad, do PT, para o segundo turno, o candidato tucano deixou bem claro qual seria o foco central da sua estratégia de campanha.
 
"O PT quer usar a questão nacional para abafar o mensalão. É óbvio que o mensalão estará presente. Ele está presente nos noticiários, está no dia a dia dos debates. Então, por que haveria de estar fora da campanha? De forma nenhuma".
 
A "questão nacional" a que Serra se refere deve ser certamente a disputa eleitoral para a qual o tucano não trouxe até agora, passadas 72 horas da votação do primeiro turno, qualquer nova proposta para melhorar a vida na cidade da qual quer ser prefeito.
 
Como já havia feito em 2010, na eleição presidencial que disputou com Dilma Rousseff, quando levantou a questão do aborto, o candidato tucano trás para o debate outro assunto ligado a tabus religiosos que podem mobilizar o eleitorado mais conservador contra o candidato do PT.
 
Após reunião com Serra, o pastor evangélico Silas Malafaia, o mesmo utilizado pelos tucanos em 2010, líder da Assembléia de Deus Vitória em Cristo, já foi logo avisando que veio a São Paulo para "arrebentar" o candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, por conta do "kit gay" atribuído a Haddad, quando era ministro da Educação, que nunca chegou a ser distribuído.
 
Na mesma hora, num outro ponto da cidade, na sede do PT, enquanto corria o julgamento do mensalão, em encontro com candidatos do partido que disputam a prefeitura de 22 cidades no segundo turno, o ex-presidente Lula reagia aos ataques dos tucanos: "Não queríamos guerra. Mas, já que eles nos chamaram, vamos para a guerra".
 
Lula pediu aos candidatos que façam comparações entre a ação do seu governo no combate à corrupção com o que fez nesta área o seu antecessor Fernando Henrique Cardoso.
 
Segundo relatos de participantes do encontro citados pela "Folha", Lula recomendou aos candidatos: "Vamos discutir problemas das cidades. Mas, se formos chamados de mensaleiros, não podemos deixar sem resposta. Vamos debater de cabeça erguida".
 
Se o julgamento do mensalão foi politizado desde o início, os seus resultados também terão inevitavelmente consequências políticas.
 
Só não se sabe ainda quais serão, pois, no primeiro turno, o tema também foi utilizado lateralmente pela oposição e, ao contrário do que era previsto por pesquisas "científicas" e analistas "isentos" dos principais veículos de comunicação, o PT saiu das urnas como campeão de votos em todo o país e cresceu no número de prefeituras conquistadas.
 
Agora, com a condenação do chamado "núcleo político" do PT denunciado no mensalão e bombardeado diuturnamente no noticiário, o tema foi trazido para o centro dos debates. Em clima de guerra, como os dois lados já anunciaram, tudo pode acontecer.
 
Tanto o julgamento pode abalar as campanhas de candidatos do PT, como também é possível que desperte e leve para as ruas a velha militância petista, a mais aguerrida e numerosa entre os partidos políticos nacionais.
 
No final da sua mensagem "Ao povo brasileiro", divulgada logo após a sua condenação, o ex-ministro José Dirceu certamente dirigiu-se a estes militantes: "Lutei pela democracia e fiz dela minha razão de viver. Vou acatar a decisão, mas não me calarei. Continuarei a lutar até provar a minha inocência. Não abandonarei a luta. Não me deixarei abater".
 
É neste clima beligerante que se dá a campanha do segundo turno em São Paulo, que não deixa muito espaço para a discussão dos nossos graves problemas urbanos, resultado da judicialização da política e da politização do judiciário.
 

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