Tal como planejado e esperado pela mídia bem antes do início do
julgamento, os petistas José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares foram
condenados pelo Supremo Tribunal Federal nesta terça-feira, em meio à
disputa do segundo turno das eleições de 2012. As decisões finais do STF
devem coincidir com os dias que antecedem a abertura das urnas.
Também não por acaso a rima pobre de eleição com mensalão se tornou a
principal, se não a única bandeira dos partidos de oposição ao governo
federal.
Desde a noite de domingo, quando foram anunciados os resultados em São
Paulo, que levaram José Serra, do PSDB, e Fernando Haddad, do PT, para o
segundo turno, o candidato tucano deixou bem claro qual seria o foco
central da sua estratégia de campanha.
"O PT quer usar a questão nacional para abafar o mensalão. É óbvio que o
mensalão estará presente. Ele está presente nos noticiários, está no
dia a dia dos debates. Então, por que haveria de estar fora da campanha?
De forma nenhuma".
A "questão nacional" a que Serra se refere deve ser certamente a disputa
eleitoral para a qual o tucano não trouxe até agora, passadas 72 horas
da votação do primeiro turno, qualquer nova proposta para melhorar a
vida na cidade da qual quer ser prefeito.
Como já havia feito em 2010, na eleição presidencial que disputou com
Dilma Rousseff, quando levantou a questão do aborto, o candidato tucano
trás para o debate outro assunto ligado a tabus religiosos que podem
mobilizar o eleitorado mais conservador contra o candidato do PT.
Após reunião com Serra, o pastor evangélico Silas Malafaia, o mesmo
utilizado pelos tucanos em 2010, líder da Assembléia de Deus Vitória em
Cristo, já foi logo avisando que veio a São Paulo para "arrebentar" o
candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, por conta do "kit gay"
atribuído a Haddad, quando era ministro da Educação, que nunca chegou a
ser distribuído.
Na mesma hora, num outro ponto da cidade, na sede do PT, enquanto corria
o julgamento do mensalão, em encontro com candidatos do partido que
disputam a prefeitura de 22 cidades no segundo turno, o ex-presidente
Lula reagia aos ataques dos tucanos: "Não queríamos guerra. Mas, já que
eles nos chamaram, vamos para a guerra".
Lula pediu aos candidatos que façam comparações entre a ação do seu
governo no combate à corrupção com o que fez nesta área o seu antecessor
Fernando Henrique Cardoso.
Segundo relatos de participantes do encontro citados pela "Folha", Lula
recomendou aos candidatos: "Vamos discutir problemas das cidades. Mas,
se formos chamados de mensaleiros, não podemos deixar sem resposta.
Vamos debater de cabeça erguida".
Se o julgamento do mensalão foi politizado desde o início, os seus
resultados também terão inevitavelmente consequências políticas.
Só não se sabe ainda quais serão, pois, no primeiro turno, o tema também
foi utilizado lateralmente pela oposição e, ao contrário do que era
previsto por pesquisas "científicas" e analistas "isentos" dos
principais veículos de comunicação, o PT saiu das urnas como campeão de
votos em todo o país e cresceu no número de prefeituras conquistadas.
Agora, com a condenação do chamado "núcleo político" do PT denunciado no
mensalão e bombardeado diuturnamente no noticiário, o tema foi trazido
para o centro dos debates. Em clima de guerra, como os dois lados já
anunciaram, tudo pode acontecer.
Tanto o julgamento pode abalar as campanhas de candidatos do PT, como
também é possível que desperte e leve para as ruas a velha militância
petista, a mais aguerrida e numerosa entre os partidos políticos
nacionais.
No final da sua mensagem "Ao povo brasileiro", divulgada logo após a sua
condenação, o ex-ministro José Dirceu certamente dirigiu-se a estes
militantes: "Lutei pela democracia e fiz dela minha razão de viver. Vou
acatar a decisão, mas não me calarei. Continuarei a lutar até provar a
minha inocência. Não abandonarei a luta. Não me deixarei abater".
É neste clima beligerante que se dá a campanha do segundo turno em São
Paulo, que não deixa muito espaço para a discussão dos nossos graves
problemas urbanos, resultado da judicialização da política e da
politização do judiciário.
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